quarta-feira, 8 de julho de 2009

Crónica semanal do Dr.Mário Soares

Uma semana agitada
por MÁRIO SOARES
A única coligação que pode vir a fazer-se é de Direita, entre o PSD e o CDS/PP
1. A semana que passou foi particularmente agitada, no plano político. Após o choque inesperado das eleições europeias, foram marcadas, finalmente, as eleições legislativas (para 27 de Setembro) e as autárquicas (para 11 de Outubro). O que significa que não há tempo a perder, dado que Agosto é um mês de férias, Julho, em parte, também é e vai passar a correr, restando Setembro, com três escassas semanas. Uma situação nova - e difícil - para todos os partidos.
Ora, no meu entender, as eleições legislativas são de natureza muito diferente das europeias, visto estas terem sido, em Portugal, essencialmente de protesto contra Sócrates e o PS, em que todos os protagonistas, da Esquerda e da Direita, estiveram bastante aguerridos e empenhados, centrados num único adversário: Sócrates. Acompanhados, aliás, pela quase totalidade da Comunicação Social e utilizando o mal-estar gerado na sociedade pela crise que nos afecta, como a todos os nossos parceiros europeus. Alguns até, como a nossa vizinha Espanha, em bem pior situação do que a nossa, por razões que nos transcendem, visto serem de natureza quase exclusivamente global.
As eleições legislativas implicam escolhas que têm a ver, fundamentalmente, com o nosso futuro colectivo para os próximos quatro anos. Atenção, portanto. O eleitorado faz nelas escolhas decisivas, das quais, se forem más, não se poderão depois queixar. Implicam, portanto, comparações entre os líderes que as disputam, as intervenções e debates em que participam, os programas e promessas que fazem, para atrair os eleitores, e a sua credibilidade.
Sucede que, sendo os partidos todos iguais, no sentido de nos merecerem o mesmo respeito, a única coligação que pode vir a fazer-se é de Direita, entre o PSD e o CDS/PP e, mesmo assim, põe problemas e dificuldades a ambos os Partidos. À Esquerda, dada a rivalidade crescente entre o PCP e o Bloco, e de ambos com o PS, também não é plausível que, antes das eleições, possa surgir qualquer coligação. Sócrates disse que só fará "uma coligação com o País", com o objectivo de "vencer a crise". Assim, a única escolha efectiva que, no actual xadrez político, o eleitorado pode fazer é entre a Direita, com ou sem CDS/PP e o PS. Serão, desta vez, realisticamente, os dois Partidos que poderão concentrar o chamado voto útil, mais do que no passado, dada a divisão que se extremou entre a Direita (PSD) e a Esquerda (PS).
Os outros partidos, poderão ter uma presença maior ou menor na Assembleia da República, mas não têm qualquer probabilidade de participar na escolha do Governo. Ninguém tem mais pena do que eu, desta situação. Nos últimos anos, com efeito, empenhei-me em estabelecer pontes e convergências à Esquerda, que se revelaram impossíveis. A culpa não será exclusiva de ninguém. É certo. Mas cabe, maioritariamente, ao Bloco e ao PCP, que com crescente agressividade - e em competição - fustigaram quase exclusivamente o PS e, em especial, Sócrates. Para quê? Respondo: oxalá não seja para dar a vitória ao PSD ou para tornar o País dificilmente governável. Se isso vier a acontecer - espero que não - poucos meses depois, serão os primeiros a arrepender-se. Porque, ao contrário do que dizem, PS e PSD são muito diferentes no exercício do poder. Não obstante o chamado "centrão de interesses", que deploro, como socialista, mas que tem peso na política.
Até o Papa Bento XVI, ao anunciar uma próxima Encíclica Social, já fala na "necessidade de mudar o paradigma de desenvolvimento", baseado no valor "da dignidade no trabalho e da necessidade da centralidade da pessoa humana". Numa carta dirigida aos dirigentes mundiais do G8, que se reúnem proximamente em L'Aquila (Itália), Bento XVI pede que "a ajuda ao desenvolvimento passe pela valorização dos recursos humanos, por ser uma das principais soluções para ultrapassar a crise" e para "reformar a arquitectura financeira internacional", sem esquecer "a ética nas medidas anti-crise".
Infelizmente, a Direita portuguesa está longe de compreender estes apelos, porque espera poder superar a crise sem mudar de paradigma financeiro, económico, ético e político. Mantém a ilusão que a crise possa passar e tudo fique na mesma...
No mesmo sentido, na União Europeia, os dirigentes, incapazes de fazer avançar o projecto institucional europeu e recusando mudanças estruturais, estão sem rumo, paralisados, insistindo nos mesmos rostos do passado e nas mesmas (inúteis) pseudo-soluções. Essa paralisia começa a tornar-se muito perigosa para todos os Estados membros. Distanciam-se, assim, da nova política da América de Barack Obama, que está a ter resultados internacionais espectaculares...
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1299253&seccao=M%E1rio%20Soares&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

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